Ezequiel 2
- E disse-me: Filho do homem, põe-te em pé, e falarei contigo.
- Então, entrou em mim o Espírito, quando falava comigo, e me pôs em pé, e ouvi o que me falava.
- E disse-me: Filho do homem, eu te envio aos filhos de Israel, às nações rebeldes que se rebelaram contra mim; eles e seus pais prevaricaram contra mim, até este mesmo dia.
- E os filhos são de semblante duro e obstinados de coração; eu te envio a eles, e lhes dirás: Assim diz o Senhor Jeová .
- E eles, quer ouçam quer deixem de ouvir (porque eles são casa rebelde), hão de saber que esteve no meio deles um profeta.
- E tu, ó filho do homem, não os temas, nem temas as suas palavras; ainda que sejam sarças e espinhos para contigo, e tu habites com escorpiões, não temas as suas palavras, nem te assustes com o rosto deles, porque são casa rebelde.
- Mas tu lhes dirás as minhas palavras, quer ouçam quer deixem de ouvir, pois são rebeldes.
- Mas tu, ó filho do homem, ouve o que eu te digo, não sejas rebelde como a casa rebelde; abre a boca e come o que eu te dou.
- Então, vi, e eis que uma mão se estendia para mim, e eis que nela estava um rolo de livro.
- E estendeu-o diante de mim, e ele estava escrito por dentro e por fora; e nele se achavam escritas lamentações, e suspiros, e ais.
2.1 Aquele que falava com Ezequiel era o Senhor, aquele cuja “voz [vinha] por cima do firmamento” (Ez 1.25).
2.2 A descrição do Espirito (heb. ruach) entrando em Ezequiel é possível que fosse algo tão inócuo quanto Ezequiel recuperar o folego (ruach) depois de o vento tira-lo do prumo.
A frase me pôs em pé seria então entendida como uma expressão hebraica referindo-se a recobrar a compostura.
No entanto, é mais provável que o Espirito de Deus (ruoch) tenha animado o corpo de Ezequiel de uma forma similar àquela do controle e orientação do Espirito em relação aos animais ou seres viventes.
O ministério de Ezequiel, portanto, começa com o poder divino sendo outorgado a ele.
2.3-5 A frase: Assim diz o Senhor Jeová (cp. 3.11) indica a verdadeira fonte da autoridade do profeta, a qual poderia ter levado aqueles que viviam tão longe da terra de Israel a duvidar.
2.4 No texto hebraico, a palavra coracão (lev) ocorre 41 vezes, referindo-se com maior frequência a condição espiritual de Israel.
No pensamento hebraico, “coração” refere-se a vontade da pessoa – a mente, a imaginação e a faculdade de planejar e tomar decisões.
O livro de Ezequiel descreve continuamente o pecado dos israelitas em termos do coração deles:
- o distanciamento do Senhor – tendo “seu coração corrompido, que se desviou de mim” (6.9);
- a busca por “ídolos” (6.9;20.16) e por sua “avareza” (33.31) o desejo por “coisas detestáveis e [..] abominações” (11.21);
- o orgulho (28.2,6,17);
- e a entrega ao controle dos “ídolos” tendo “levantado [heb. salh, “elevar, exaltar”] os seus ídolos no seu coração”(14.3-5,7).
O Senhor, portanto, por eles terem feito concessões e profanado totalmente seu coração, prometeu dar-lhes (11.19; cp. 18.31). - “um mesmo coração”(i.e., caracterizado pela integridade e a devoção sincera ao Senhor, pela fidelidade, em oposição a lealdade dividida);
- “um coração de carne” substituindo a determinação obstinada de desafiar os propósitos de Deus pela vontade viva e maleável, facilmente moldada para os desígnios do Senhor.
2.6-3.3 A mensagem de Ezequiel seria rejeitada, e ele enfrentaria hostilidade, e isso seria indicado pelas imagens de sarças e espinhos e escorpiões.
Ele recebeu a ordem para comer o rolo de livro que aquela mão estendia para ele e abriu o livro ou o estendeu (2.10).
As palavras são um tema ao longo de todo o livro – palavras de rejeição do julgamento profético e palavras do encontro divino-humano no íntimo do profeta, um vaso disposto a servir ao Senhor (cp. 2.10; 3.4,5-6,10).
A palavra do Senhor é doce para comer (3.1; cp. Sl 119.103), mas a proclamação de sua mensagem de julgamento de seu próprio povo seria uma tarefa amarga (cp. Ap 10.9-10). O comer o rolo simbolizava a internalização da mensagem de Deus pelo profeta.