Salmo 17
- Ouve, Senhor, a justiça e atende ao meu clamor; dá ouvidos à minha oração, que não é feita com lábios enganosos.
- Saia a minha sentença de diante do teu rosto; atendam os teus olhos à razão.
- Provaste o meu coração; visitaste-me de noite; examinaste-me e nada achaste; o que pensei, a minha boca não transgredirá.
- Quanto ao trato dos homens, pela palavra dos teus lábios me guardei das veredas do destruidor.
- Dirige os meus passos nos teus caminhos, para que as minhas pegadas não vacilem.
- Eu te invoquei, ó Deus, pois me queres ouvir; inclina para mim os teus ouvidos e escuta as minhas palavras.
- Faze maravilhosas as tuas beneficências, tu que livras aqueles que em ti confiam dos que se levantam contra a tua destra.
- Guarda-me como à menina do olho, esconde-me à sombra das tuas asas,
- dos ímpios que me oprimem, dos meus inimigos mortais que me andam cercando.
- Na sua gordura se encerram e com a boca falam soberbamente.
- Andam-nos agora espiando os nossos passos; e fixam os seus olhos em nós para nos derribarem por terra;
- parecem-se com o leão que deseja arrebatar a sua presa e com o leãozinho que se põe em esconderijos.
- Levanta-te, Senhor! Detém-no, derriba-o, livra a minha alma do ímpio, pela tua espada;
- dos homens, com a tua mão, Senhor, dos homens do mundo, cuja porção está nesta vida e cujo ventre enches do teu tesouro oculto; seus filhos estão fartos, e estes dão os seus sobejos às suas crianças.
- Quanto a mim, contemplarei a tua face na justiça; eu me satisfarei da tua semelhança quando acordar.
Explicação do Salmo 17:1-15
Esse salmo e o primeiro no livro a ser identificado como oração. Davi pediu a Deus em uma linguagem ecoando os cânticos de Moises celebrando a libertação de Israel do Egito e a preparação para entrar na terra prometida (cp. Ex 15.11-13; Dt 32.1-43).
Davi apelou ao Senhor por uma sentença e por uma intervenção divina para que o Senhor o livre […] do ímpio com a espada e com a mão de Deus, transmitindo com esses termos o poder do Senhor.
O vocabulário ecoa Dt 32.41 “Se eu afiar a minha espada reluzente e travar do juízo a minha mão, …recompensarei os meus aborrecedores”.
Moises exaltou a Deus por estar “operando maravilhas” Ex 15.11 em favor de Israel e observou que Deus os guiaria com sua “beneficência” (Ex 15.13).
Em SI 17.7, Davi convida Deus a fazer maravilhosas as suas beneficências.
Salmo 17:7 – Davi chama Deus de Salvador
Tu que livras (“aquele que salva”, v.7), ligando o cântico em Ex 15 com o contexto de sua narrativa: “Assim, o Senhor salvou Israel […]” (Ex 14.30).
O salmo reconhece Deus como aquele que salva aqueles que nele confiam [heb.chasah, “fugir para algum lugar ou pessoa em busca de proteção”; cp.2.12; 5.11; 7.1; 11.1; 16.1; 18.2,30] dos que se levantam contra a tua destra.
O cântico de Êxodo, por três vezes, atribui a libertação realizada pelo Senhor a sua “destra” (heb. yamin, Ex 15.6,12 [“mão direita”]) de Deus, uma metáfora significando o poder sem igual de Deus, em especial quando usado para resgatar seu povo.
No cântico de Moises, os que “confiam” só encontram refúgio no Senhor, e “ninguém há que escape da […] sua mão”. Assim, “levantar-se” contra a “destra” de Deus e uma atitude vã (SI 17.7).
Salmo 17:8 – Davi ora
Guarda-me [Salmo 16.1] como à menina do olho; esconde-me a sombra das tuas asas (SI 17.8; cp.36.7; 57.1; 6.14; 63.7).
No cântico de Moises, o Senhor “guardou” seu povo “como a menina do seu olho” (Dt 32.10) e como uma águia que esconde os filhotes na sombra de suas asas (Ex 19.4).
Essa imagem também recorda a forma como a arca do concerto – com as asas dos querubins sobre o propiciatório (Ex 25.20) – servia como um símbolo da presença e proteção de Deus.
Assim como o Senhor demonstrou seu poder contra o Egito, também Davi esperava com confiança sua libertação de seus atormentadores.